Sobre pessoas bonitas, inspirações, amores desmedidos, memórias, elaborações, viagens, fotografias e outros outonos. Sobre o que levo em meu coração, sempre. [licialves@gmail.com]
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quinta-feira, 5 de junho de 2014

um sonho, vários corações


A história de hoje é uma viagem que envolve um amor transbordante e uma força de realização e incentivo incríveis! A Paula passou por um momento muito difícil e transformou a si e a muitos enquanto lidava com sua dor. Fiquei muito feliz e emocionada ao saber um pouquinho mais sobre a história dela. Se a sua lente precisa de um renovo para que você possa enxergar a vida por uma ótica cheia de cor e de positividade, esse relato é pra você!


***

Como surgiu a ideia do projeto? O que te motivou a realizá-lo dessa forma?
De início, minha amiga Larissa havia me enviado um email com um concurso de curtas inspiracionais que estava acontecendo na internet. O concurso visava criar vídeos de até 3 minutos com uma mensagem motivacional. Eu abri esse email duas semanas após a morte do meu pai, e confesso que naquele momento estava passando por um período difícil de deslocamento e compreensão de tudo que havia acontecido. Lembrei de nossa lista de lugares que gostaríamos de conhecer no mundo e vi na produção desse vídeo a oportunidade de criar algo bonito e inspirador pra muitas pessoas.
Por fim, perdemos o concurso mas o vídeo acabou sendo um grande sucesso, com uma repercussão incrível e milhares de pessoas comovidas com a nossa história e motivadas a seguir seus próprios sonhos também.


Como era a sua vida antes dele e o que mudou após a concretização do video
Foram muitas coisas. Interna e externamente! Antes de produzir o vídeo eu passava por um momento de filtração de tudo o que havia acontecido. Quando perdemos alguém em um espaço tão curto de tempo, experimentamos muitas sensações, entre elas uma das mais loucas é a de não pertencimento. Pelo menos para mim foi assim. Eu sentia como se nada mais se encaixasse no lugar. Não pertencia a lugar algum. Não queria estar em casa, no trabalho, na rua, em nenhum ambiente me sentia bem. O vídeo foi, sem dúvidas, um grande canalizador de toda minha energia que estava dispersa, bagunçada, sem nenhuma direção. Foquei de mente e alma em fazer o projeto acontecer e encontrar todas aquelas pessoas e o resultado foi um imenso sentimento de satisfação, orgulho, e o mais importante: o tão precioso equilíbrio que eu já não sentia há algum tempo. Senti que eu novamente pertencia a algum lugar dentro da minha própria vida.

Quanto tempo demorou o planejamento e a concretização? 
Quando decidimos fazer o vídeo, para, até então, ser entregue no concurso, tínhamos apenas 2 semanas para entregar algo definitivo. Então, durante uma semana procuramos pessoas em todo o mundo que estivessem nos lugares da lista, usando principalmente as redes sociais. Na outra semana editamos os vídeos e, ao final da segunda semana, tudo estava pronto.

Por quê decidiu compartilhá-la pelo facebook?
Como havia apenas uma semana para achar pessoas em 18 diferentes países, criar uma página no facebook foi a melhor forma de espalhar a ideia e encontrar essas pessoas. Também usamos muito o Instagram, seguindo as pessoas com hashtags nos lugares da lista! Rs e o site de viajantes Couchsurfing.

Qual a reação da sua família à ideia? e os amigos?
De inicio, eu quis fazer surpresa e não contei pra ninguém da minha família! Rs Porém, depois que a página no face começou a crescer, tive que contar, e foi a maior alegria. Meus amigos foram sensacionais, fico até agora impressionada pois abraçaram o projeto como se fosse deles. Amigas muito especiais todos os dias procuravam por pessoas nas redes sociais. Uma quantidade enorme de conhecidos compartilhava minha história e ajudava a divulgar a causa. Formou-se uma verdadeira rede do bem. Todos sabiam que ali o propósito era realizar um único sonho em conjunto, e cada um, individualmente, fez parte desse grande sonho que tornou-se coletivo.

De quem teve apoio, em geral?
Principalmente dos amigos mais próximo, que, como eu disse antes, abraçaram a causa com todo amor.



Com relação ao seu pai, se vc se sentir confortável em falar, de que você sente mais falta? Como imagina que isso a tenha ajudado a lidar com o momento difícil de perda?
Sinto falta nos pequenos momentos do dia a dia. São muitas lembranças em toda a parte! A música preferida que toca no rádio, o cartão de aniversário guardado na gaveta, tantas coisas. Esses dias parei no farol bem em frente a um desses botecos de bairro, em que os homens jogam sinuca e bebem cerveja no fim do dia. meu pai amava jogar sinuca, tinha até um troféu de anos atrás. É uma fração de segundos, mas aquela cena dos homens no bar me trouxe um imenso sentimento de saudades. Acredito que a presença do meu pai nunca deixará de existir. Não fisicamente, mas de outra forma, não concreta, mas totalmente viva.
Como eu disse, o vídeo foi a oportunidade que encontrei de transmutar a tristeza e angústia de uma perda em amor e cooperação, através de todas as maravilhosas pessoas que tornaram esse sonho possível. 

 







Quais os planos para o futuro?
Tenho alguns projetos em mente, e, principalmente, um grande encerramento para o Manu’s Project está por vir. Mas por enquanto ainda é surpresa! rs

Qual o maior desafio que encontrou?
Encontrei muitos desafios durante o Projeto. O de não encontrar pessoas em determinados lugares, faltando apenas um dia para o prazo final de captação dos vídeos, o de divulgar o Projeto e vídeo final por mim mesma na internet, e o principal, de responder com grande discernimento, sensatez e atenção a todos aqueles que me procuraram angustiados, para contar suas próprias histórias.

Quais foram os melhores momentos até agora?
Sem dúvida, os melhores momentos são aqueles que tenho uma resposta direta de alguém sobre a interferência do meu vídeo na vida dela ou dele. É indescritível a imensa gratidão que há em saber que uma atitude sua, por menor ou menos intencionada que seja pode afetar tão profundamente a vida de uma outra pessoa. Recebi mensagens de pessoas que disseram rever seus próprios conceitos de vida; outros que reviram seus valores familiares; um rapaz, em especial, disse ter comprado uma viagem para a Europa com o pai por conta do meu vídeo tê-lo motivado a passar mais tempo com aqueles que amamos. Então, é realmente muito forte saber que somos capazes de transformar realidades quando produzimos ações sinceras de efeito coletivo.
 

Em que momento notou que isso valia mesmo a pena?
Desde o principio vi que valia a pena. Para mim, o simples fato de produzir o vídeo  já valia a pena! Mesmo que ninguém visse, eu estava tão empenhada e motivada em tornar aquilo uma realidade que, sinceramente, nem me preocupava tanto a repercussão. Isso é uma coisa que acontece facilmente quando criamos algo do coração, quando nos dedicamos de alma a algo que primeiramente nos satisfaz. Ai é como um copo cheio de água, ficamos tão cheios de motivação e paixão por aquilo que estamos construindo, que o copo transborda e isso se espalha para outras pessoas. Pra mim, toda ação de sucesso tem que nascer de um coração transbordado de paixão e motivação. Para quem vê de fora, se torna algo tão magnético que logo veem-se preenchidas pelos mesmos sentimentos.

Se arrepende de algo?
Essa é uma pergunta ampla. Já me arrependi de muitas coisas na minha vida até perceber que o erro é saudável. Gosto de uma frase de um grande amigo e professor que diz que não evoluímos quando deixamos de errar, mas sim quando percebemos e corrigimos nossos erros com mais rapidez. Nos arrependemos quando não aceitamos nossos erros como parte de um processo de aprendizado. Por mais que eu tenha errado com meu pai ou com qualquer outra pessoa, deixado de fazer certas coisas, ou feito outras de forma errada, não me arrependo, nem tão pouco me critico. Talvez, com a consciência que tenho hoje, em outra época, faria de forma diferente. Mas de forma alguma me arrependo pelo que fiz, considerando minha capacidade de compreender as coisas no tempo ocorrido. As pessoas se julgam muito. Se culpam por coisas do passado. Não conseguem perdoar a si mesmas nem a outras pessoas. E muitas vezes acabam arrastando arrependimentos e mágoas como âncoras o resto da vida.

O que faria diferente e por quê?
Faria muitas coisas diferentes se aos 17 anos tivesse a cabeça que tenho hoje! Mas acredito que tudo que passamos é um processo para formar quem somos hoje. Talvez eu não fosse hoje a mesma pessoa sem meus erros do passado. Não gosto de reformatar o passado! Porque ele não é real. O único tempo real é o presente e aqui podemos fazer e criar tudo aquilo que imaginarmos. No passado ninguém pode mexer! Ficar imaginando infinitas possibilidades diferentes para uma situação passada é perda de tempo e desgaste emocional. Hoje temos todas as ferramentas para consertar velhos erros e confeccionar novos acertos.

O que mudou em você depois da experiência?
Eu me senti capaz. Me senti capaz de realizar meus sonhos e de conquistar tudo aquilo que eu desejar de coração. Criei uma força tão grande dentro de mim que pude não só converter todos os sentimentos negativos que senti com a perda do meu pai, como também me renovei e revi velhas posturas e condicionamentos. Digamos que dei um upload! rs

Dentre as pessoas mais próximas (amigos, familiares), você percebe algum impacto provindo da sua atitude de buscar realizar o sonho de vocês dessa forma?
O vídeo sem dúvidas foi uma forma inusitada de realizar nosso sonho e, como eu disse, o impacto é coletivo. Não só amigos e familiares, mas acredito que as pessoas se comoveram com minha história por ter sido contada com tanta verdade e por ter tanta similaridade com a histórias de outras muitas pessoas. Todos nós perdemos alguém. A vida é feita e perdas. Pessoas que se vão e que vem. Mesmo que não tenham morrido. Quantas pessoas não entram em nossas vidas e depois se vão? Também é um tipo de perda. Quanto à morte, todos sabemos também que é certa, e que algum dia perderemos alguém que amamos. A perda causa um impacto muito grande em nós. Porque todos nós partilhamos dela um dia. Acredito que o impacto maior nas pessoas ao verem o vídeo é de que a vida é realmente breve e perdemos coisas e pessoas o tempo inteiro. Portanto temos que viver plenamente nossos ganhos, nossas vivenciais, pois as perdas sem dúvidas irão existir.

Como você avalia a influência da história de vocês na vida das pessoas em geral?


Acho que a resposta para essa pergunta é a mesma da anterior, porém eu acrescentaria que as pessoas em geral colecionam sonhos, e os colocam numa realidade muito distante do dia de hoje. Quase que inalcançáveis. Sempre colocando empecilhos como falta de tempo, de dinheiro, de companhia, de disposição, de coragem etc... Os sonhos se tornam mais fantasias do que sonhos por si só. Impossíveis de serem realizados. Sem dúvidas a mensagem principal do vídeo ‘’Viva sua lista”, é uma analogia para “Viva o seu sonho’’. E se eu pude “levar o meu pai’’ para conhecer 18 países em uma semana, com certeza seu sonho também esta mais próximo da realidade do que você imagina.

fotos: acervo pessoal.

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facebook: Manu's project

quinta-feira, 29 de maio de 2014

O Paraíso achado no Alto

Continuando a série Inspire-se!, hoje vou mostrar o relato de uns pézinhos viajantes! Achei o blog da Jamille por acaso e me apaixonei. A sensibilidade das fotos e dos relatos que retratam um dia-a-dia bonito e cheio de luz fazem qualquer um suspirar. Ela é uma dessas pessoas que têm a coragem de ser o que é e a força necessária para lutar por uma vida melhor. Distante de padrões socialmente impostos, Jamille e Luandro buscam criar um caminho mais leve, natural e com muita cor para sua filha Kira. E no meio do processo acabam tocando o coração de quem o destino permite encontrá-los. Se você sonha com uma vida tranquila e cheia de natureza, esse relato é pra você! 

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Bom, sou a Jamille, geminiana e mãe da Kira. Nasci e cresci em Fortaleza - Ceará, terra com a qual tenho um caso arrebatador de amor & ódio (dizem que os verdadeiros amores são assim, né?). Estudei 3 anos de Letras na Universidade Federal do Ceará, um curso que eu realmente amo. Sempre gostei muito de escrever, então não tive muita dúvida na hora da escolha. Eu adorava as aulas, mas nunca me via sendo professora, queria fugir daquele meio. E sabia também que eu não iria morar em Fortaleza por muito tempo, sabia que eu ainda tinha muito lugar pra andar e chamar de casa. Eis que em 2012 eu descobri que ia ser mãe. Tudo mudou. Eu não tive dúvidas e, naquele momento, diante de tanta coisa nova, já sabia que era a hora de partir de Fortaleza. Hora de procurar outro lugar, um lugar mais tranquilo, mais perto da natureza, com um ritmo mais leve. Eu sentia que devia isso a ela, coisa que na cidade grande eu não estava conseguindo. Vivia sufocada por ônibus, assaltos, pressa pra chegar na aula, stress por chegar atrasada, ego... Eram tantas coisas que eu acabava esquecendo de olhar pra mim. Com a notícia de que eu ia ser mãe, tudo ficou bem claro na minha cabeça e, mesmo tendo que ficar longe da família, decidimos partir (com o coração apertado de saudade). Minha família sempre me apoiou muito na nossa escolha, mesmo morrendo de saudade.



Conheci o Luandro na casa de um amigo muito querido, foi algo muito natural e repentino. Ele é de Minas, mas veio pra Fortaleza estudar Cinema. Estudávamos a poucos metros de distância e almoçávamos no mesmo lugar todos os dias, mas nunca tínhamos reparado um no outro. Nos conhecemos e nunca mais nos largamos. Um ano depois veio a notícia que mudou tudo: construiríamos uma família! Meio desajeitados e inexperientes aceitamos esse desafio da vida com muita vontade e amor. Resolvemos começar uma vida nova, num lugar novo. Tudo para receber essa pequena da melhor maneira possível e proporcionar a ela toda a naturalidade e simplicidade que uma criança deve ter.

Pra isso, nos planejamos. Luandro passou um ano na Coréia do Sul estudando, e lá conseguiu juntar um dinheiro bom pra gente começar a realizar esse sonho. Eu comecei a trabalhar em casa mesmo, com artesanatos. Passar um ano do outro lado do mundo do Lu não foi fácil, mas estamos colhendo os frutos desse esforço hoje.

A escolha da cidade não foi muito difícil. Luandro queria ir pra Chapada Diamantina (que ele já visitou algumas vezes) e eu tenho uma amiga fotógrafa que morava na Chapada dos Veadeiros. Eu sempre babava nas fotos da Chapada que ela postava, e um pedacinho de mim sempre viajava junto com as imagens. Quando dei a sugestão pro Lu, ele topou na hora. Então fizemos a mala e fomos pra essa tal Alto Paraíso, sem nunca ter visitado antes. Brinco que fomos "com a Kira e a coragem" pra um lugar novo, começando uma vida nova, longe de família, amigos... Mas sabíamos que ia valer a pena.

Com nosso dia-a-dia bem diferente da vida em Fortaleza, fui conhecendo um mundo novo. Um mundo que eu achava ser impossível. Um mundo onde as pessoas que não te conhecem na rua te dão bom dia, um mundo em que eu tinha um jardim pra cuidar e colocar todo o amor e carinho ali, deixar a Kira brincar na terra, andar na rua prestando atenção nos tucanos e araras voando... Tudo aquilo me parecia tão mágico, tão novo, que eu comecei a escrever. Aí surgiu a ideia do blog, onde eu mandaria notícias para todos os queridos que estão longe e contaria um pouco de como essa mudança tava melhorando nossa vida.

Nossa vida aqui é bem diferente do que tínhamos na cidade em todos os aspectos. Em dia-a-dia, em rotina, em dinheiro... Aqui aprendemos a viver com o mínimo. Moramos numa casinha a 12km (pegando estrada de terra) de Alto Paraíso, então nossos gastos diminuem muito porque estamos "afastados" da loucura de consumismo da cidade. Posso dizer que em cidade você não acha nem um barraco pelo preço do aluguel da nossa casa. Não pagamos água (porque a água vem diretamente do rio) e a conta de luz, como é área rural, vem bem barata. Nosso luxo aqui é ter internet e computador. Esse é nosso ganha-pão atualmente, o que tá dando pra manter as despesas tranquilamente.

Mas nem tudo são flores, também. As vezes bate uma saudade imensa da minha família, da convivência, da praia, do calor... e até do caos da cidade! Mas nessa hora eu respiro fundo e vejo a Kira aqui, crescendo toda feliz, e vejo que isso, pra ela, não tem preço. Ela tá tendo uma oportunidade incrível de crescer em volta de natureza, tomando banho no rio, pegando frutas do pé, brincando na terra... E ela ama isso tudo! E nós mais ainda... :)


Essa mudança não é só nossa, tenho certeza disso. Até minha mãe já cogita a possibilidade de vir morar aqui! Isso é incrível demais pra mim! Fico explodindo de alegria quando vejo alguém que tem essa vontade de mudar, de ter uma vida mais simples que o convencional. Por isso escrevo, pra dar a coragem que falta nessas pessoas. Pra mostrar que, sim, é possível ter uma vida mais tranquila e mais pura, em contato com a natureza, num ritmo mais desacelerado.

Não costumamos fazer muitos planos, mas uma coisa que estamos querendo muito é fazer um mochilão com a Kira. Essa ideia requer um pouco mais de tempo, de planejamento e mais dinheiro, então vamos esperar ela crescer mais um pouco. Enquanto isso, ficaremos aqui, sem pressa de ir embora.



fotos: acervo pessoal

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Quer conhecer mais sobre essa linda família e se inspirar a ter uma vida mais natural e sustentável? Segue ai:

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Portas Abertas


A ideia inicial da série Inspire-se! era que histórias que me tocaram de alguma forma fossem compartilhadas aqui para que pudessem incentivar novos sonhos no coração de quem lê esse espacinho. Sendo assim, ao saber que Aline Campbell estaria em Fortaleza, tratei de entrar em contato com ela pra conversarmos sobre uma possível entrevista. Ela muito prontamente respondeu e aconteceu que ela ficou na minha casa por alguns dias. Foi tudo meio inusitado. Um dia antes eu estava a navegar pela web pesquisando temas e casos pra me inspirar e começar este bloguinho. Vi a entrevista dela em um outro blog e achei a história de sua viagem à Europa no mínimo inusitada. Não é todo dia que alguém sai por ai se jogando no mundo sem a 'segurança', muitas vezes ilusória, que o dinheiro dá.

A artista plástica viajou a Europa e encontrou acomodação através do couchsurfing, site que possibilita que pessoas cedam seu 'sofá' pra mochileiros e que haja, assim, a troca de experiências e o possível início de uma amizade. Sua experiência positiva com o site durante o período que ficou no Canadá a encorajou a tentar novamente na Europa, em sua viagem fantástica. Fiquei curiosa pra saber mais sobre os motivos que a levaram a viajar desta forma e a compartilhar a jornada com o mundo.

Aline é uma figura forte. Seu cabelo médio raspado e suas botas imponentes são parte de sua personalidade questionadora. É improvável passar por ela sem percebe-la. No entanto, a parte mais curiosa do encontro inicial ficou por conta de Saga, seu cãozinho. Acredito que nada resuma melhor o conjunto de seus ideais que Saga. O Weimaraner de 4 meses é um sapeca. Possui a doçura de um filhote e a vivacidade de quem não conhece impossibilidades. Está sempre aberto a se relacionar com as pessoas e bichanos que encontra pelo caminho e floresce ao encontrar uma aventura pela frente. Saga tem a felicidade de experienciar a vida e de sentir-se livre. Ao falar de Saga estou, certamente, falando, também, de Aline.


Pensando sobre a tal entrevista que fomentou nosso encontro, acabamos concordando que, mais que falar sobre suas viagens e histórias, o que faria sentido para o meu blog seria falar sobre como a atitude e estilo de vida de Aline  tem exercido um impacto sobre a vida de outros e sobre como foi a minha experiência com ela e Saga.
Ela deixa claro em suas postagens no facebook que seu objetivo é fazer o projeto conhecido e espalhar as novas para, assim, demonstrar que existe sim bondade nas pessoas e que é possível se libertar de algumas cadeias impostas pelo sistema. Portanto, em seu trajeto, Aline aproveita cada oportunidade que tem de explicar a ideia do projeto e isso a levou a dar palestras em universidades, a conhecer as mais diversas pessoas e comunidades, a pegar carona com caminhoneiros, participar de programas de televisão, sair em matérias de revistas e a conhecer, em cerca de um ano (contando as viagens da Europa e do Brasil), mais do que muitos conhecem em uma vida inteira.

Todo mundo já sabe que Aline viajou a Europa sem um tostão no bolso e que fez essa proeza a partir da convicção de que as pessoas estariam dispostas a ajudá-la. Ela acreditava que havia mais para se viver do que a mídia diz ser possível e que o mundo é maior do que podemos capturar em nosso entendimento mediado pelas informações que acessamos nos veículos de comunicação. A viagem ao velho mundo foi uma experiência tão positiva que ela decidiu repetir a dose no Brasil. Dessa vez não viajava sem dinheiro mas o propósito continuava o mesmo: demonstrar o poder de conhecer as pessoas e de confiar no mundo. Apesar de receber algumas críticas ela permaneceu firme em seu objetivo e continuou a trilhar seu caminho segura de suas convicções, mas adicionando um tempero a mais: Saga. O que poderia causar um maior estranhamento que uma mulher viajando o Brasil(!) - com todo o estigma da violência e insegurança- e se locomovendo com seu Weimaraner através de caronas dadas por estranhos?

Em uma das conversas que tivemos, ela afirmou que a presença de Saga em suas viagens tem demonstrado como a sociedade - que, em geral, considera o cachorro o melhor amigo do homem, muitas vezes, não o trata de uma forma justa. Foi curioso observar como as pessoas estão sempre tão próximas de seus animais de estimação mas de uma forma tão desigual e, paradoxalmente, distante. Como, apesar de estarmos sempre tão prontos para declarar amor pelos animais, muitos de nós não sabemos nos relacionar com a natureza como um todo. Não sabemos respeitá-la e interagir com ela de uma forma saudável.

O que mais me chamou atenção em Aline foi a sua atitude autêntica e seu modo espontâneo de levar a vida. Ao contrário do que muitos podem pensar, ela não é uma pessoa desajustada e sem noção das coisas. Muito pelo contrário, ela tem um senso de urgência, propósito, planejamento e execução invejáveis. Ela se adapta as mais diversas situações sem perder sua essência. Em suas viagens procura conhecer as pessoas com quem fica mais do que locais turísticos e nos tempos livres está sempre trabalhando em seu livro, organizando parcerias e estruturando seu projeto. Sua atitude é de uma abertura a oportunidades.

Está constantemente atenta aos que estão ao seu redor e aos acontecimentos que podem contribuir para o crescimento de seus ideais. Ao mesmo tempo em que maneja muito bem suas demandas financeiras e estruturais, não só em seu trajeto, mas também em casa no Rio de Janeiro, ela está sempre disposta a enfrentar o novo e agregar o inesperado ao seu projeto. Aline sabe o que quer e trabalha com os recursos que tem para chegar lá. Seus planos e sonhos parecem estar sempre em mutação. Adaptabilidade é, de fato, a palavra que melhor definiria sua atitude para com o mundo e, se Raul fosse vivo, suspeitaria que se inspirou nela para escrever Metamorfose Ambulante
Ela cuida muito bem de seu cão sem privá-lo da experiência de ser um animal livre e feliz, e trata com equilíbrio suas críticas e desafios. Vale ressaltar ainda, que, ao contrário do que pode parecer ao olhar desavisado, Aline sabe priorizar suas atividades e necessidades. No meio de toda mudança, permanece sempre em contato com os pais e atenta ao que pode oferecer e construir onde estiver. Ela mencionou que, de início, os amigos e a família não compreenderam muito sua decisão de viajar por ai dessa forma, mas aos poucos foram se alinhando e apoiando seu projeto.

De forma geral, creio que os maiores méritos de Aline em seu projeto são a coragem para enfrentar situações inusitadas e a abertura a um estilo de vida em paz com a falta de controle sem perder o senso de propósito e a atitude pro-ativa. Aline tem encontrado em suas andanças uma oportunidade para reformular seus projetos, ampliar seus ideias e se conectar às pessoas e ao mundo. E sua atitude questionadora e, muitas vezes, polêmica, me parecem necessárias nos dias de hoje. E um outro traço bastante louvável é sua atitude de confiança, no mundo, nas pessoas e em si mesma. Certamente, Aline sabe quem é e a que veio. Sente-se segura em suas escolhas e não deixa com que o medo e os desafios do caminho (que aparecem, inevitavelmente) a abatam. Seu foco está sempre voltado para a solução e para que desfrute de suas experiências. Para estar onde está e para fazer o melhor com o que tem no dia de hoje. É impossível estar perto dela e não se afetar em algum nível com a maneira como ela se porta no mundo. Seu posicionamento inspira reflexão e mudança, de um jeito ou de outro.

Abaixo algumas fotos do dia em que exploramos um pouquinho alguns locais de Fortaleza:


quinta-feira, 8 de maio de 2014

Sobre como uma viagem pode mudar sua vida por completo!

Começa hoje a série 'Inspire-se!'. Nessa série, contaremos o relato de várias pessoas que viajaram e modificaram o mundo e a si mesmas de alguma forma. Os nomes da lista foram escolhidos com muito carinho e por motivos bem específicos. A ideia é que possamos alargar nossos horizontes através dos olhares dessas pessoas incríveis. cada história conta um pouquinho sobre os sonhos delas e como fizeram para atrelar suas aspirações e ideias a propósitos maiores! 

e essa é a história da Lorena, uma menina de 20 anos que tem levado beleza e motivação por onde passa, com seu sorriso largo e seu coração cheio de disposição! 

* * *

Eu me chamo Lorena Stephanie, tenho 20 anos. Sou cearense, estudo Psicologia e sou apaixonada por trabalhar com pessoas. Comecei a realizar trabalho voluntário oficialmente aos 18 anos e foi quando eu aprendi que quanto mais tempo eu invisto em uma causa que acredito, mais eu cresço e me desenvolvo como profissional e como ser humano.

Entrei na Universidade aos 17 anos e estava descobrindo um mundo novo, procurando por desafios que me tornassem uma pessoa melhor. Foi então que fiquei sabendo que uma prima minha tinha ido para a Romênia desenvolver um projeto social na área de Educação Cultural, achei aquilo incrível, principalmente quando conversei com ela sobre as diferenças culturais que ela tinha vivido, sobre o domínio de um novo idioma e outras experiências que ela viveu por lá.

Então, ela me apresentou a AIESEC, uma organização global, sem fins lucrativos,  gerida inteiramente por jovens universitários, que promove experiências internacionais com o objetivo de desenvolver liderança em jovens para alcançar a paz mundial e o desenvolvimento das potencialidades humanas. Uau.

Realmente me conectei bastante com a proposta da organização e era exatamente o que eu estava buscando, me desenvolver enquanto desenvolvia outras pessoas. Lembrei bastante de uma frase do Aristóteles que diz “onde cruzam meus talentos e paixões com as necessidades do mundo, lá está o meu caminho." (Aristóteles)

Foi então que eu decidi buscar a AIESEC e fazer meu intercâmbio voluntário. Talvez não fosse o melhor momento da minha vida, talvez eu não tivesse tanto dinheiro assim, mas se eu não tomasse uma decisão, nunca ia acontecer. Lembro que a partir disso, foi tudo muito rápido, logo entrei no sistema e comecei a buscar meu projeto.

Eu queria ir para a África, encontrei projetos bem legais lá, mas um dia estava pesquisando em grupos internos da AIESEC e vi uma postagem de uma brasileira muito feliz por ter ido pra India. Parei pensei em voz alta, “India.” Por que não? Já tive que explicar algumas vezes porque eu escolhi a India e a explicação mais sincera é que a India que nos escolhe. Lembro que fui conversar com a minha mãe e disse: “Mãe, vou pra India.”  E ela respondeu: “Pra onde?” com aquela esperança de mãe que eu pudesse dizer algum destino menos exótico.




Quando eu dizia com completa empolgação para os meus amigos, que estavam sonhando em ir pro Canadá ou pros EUA, que eu estava indo pra India por dois meses para realizar um projeto social, eles não entendiam muito bem. Foi, então, que durante as férias do meio do ano de 2012, eu agreguei uma experiência fantástica ao meu currículo e a minha história de vida.

Então, aos 18 anos eu entrei na AIESEC como membro e realizei o meu intercâmbio social pra a India, onde desenvolvi dois projetos, um na área de Educação Cultural e  o outro na área de Direitos Humanos.

A Índia é um país completamente diferente e por isso tão especial, além de ter convivido com pessoas de diversas nacionalidades durante o meu projeto, também tive a oportunidade de viver em um país com diversas religiões, línguas, comidas, tradições, bem diferentes do que eu acostumava a ver no Brasil. Todo esse choque cultural me fez entender que mesmo que as pessoas pensem, ajam e se relacionem de maneira diferente, no final somos todos cidadãos do mundo.

O mais importante de toda a experiência, com certeza, foi a mudança, mesmo que pequena em um primeiro momento, que o meu trabalho impactou na vida de pessoas lá. No meu primeiro projeto, eu dava aula sobre cultura brasileira para crianças de algumas escolas de Calcutá. Era muito interessante vê-los descobrindo sobre a cultura de um país tão atrativo como o Brasil e me oferecendo em troca todo o carinho da cultura indiana. Até hoje mantenho contato com muitos dos meus alunos e alguns conversam comigo algumas pequenas frases em português, pois se desafiaram a aprender depois que eu estive lá.

Já o meu segundo trabalho era ensinar inglês para crianças carentes de 3 a 5 anos em um ONG. Essas crianças estavam morando lá integralmente e tinham sido tiradas das ruas, da guarda dos pais por abuso ou mal tratos ou por diversas outras razões que nem vale a pena lembrar. Quando eu mostrava no globo de onde eu era, elas me perguntavam se eu tinha vindo do outro lado do mundo só pra cuidar delas. Foi nesse momento que eu percebi que não precisava ter um background extenso para estar ali, mas ser um outro ser humano preocupado em oferecer algo bom pra elas e em troca ganhar uma experiência muito rica de transformação pessoal. Esses momentos me ajudavam a me manter bastante motivada a realizar o meu trabalho!

Bom, essa é um pouco da minha história de intercâmbio, como a de muitos outros jovens que resolveram sair das suas zonas de conforto e liderar a sua jornada mundo a fora.

Hoje, aos 20 anos, sou Presidente da AIESEC em Fortaleza e lidero quase 100 jovens, além de já ter tido a oportunidade de representar a AIESEC em alguns países, como México, Rússia, Bélgica e o próximo destino será Taiwan. Os meus próximos passos de carreira ainda estão conectados com a AIESEC, a conclusão da minha faculdade e continuar trabalhando com algo que gere uma mudança positiva no mundo.


fotos: acervo pessoal




Lorena Stephanie (lorena.stephanie@aiesec.net)

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Se você se interessou e quer saber mais sobre o trabalho que a AIESEC desenvolve, veja clicando aqui!